domingo, 8 de abril de 2007

Entrevista de Fernando Gouveia da Veiga ao "Record"

Dois anos perdidos em Clube sem rumo

Candidato pela lista C, o mais jovem dos três concorrentes às eleições, dá prioridade à estabilidade financeira e à formação

Record - O que o levou a candidatar-se?

GOUVEIA DA VEIGA -
Candidatei-me por sentir que existia a necessidade absoluta de alterar o rumo do Belenenses e de lhe dar uma esperança e um futuro que eu entendo que pode ser risonho. Pretendo implementar um projecto desportivo, que é algo que falta ao Clube. Acho que tenho essa capacidade e que faço muito melhor que a actual direcção.

R - Referiu que o Clube poderia entrar em colapso financeiro até final do ano. Isso não poderá ser desestabilizador?

GV -
A minha candidatura é pela positiva, sem prejuízo de fazer as críticas que entendo necessárias para denunciar a realidade do Clube. Não sou sócio há pouco tempo e sempre coloquei todas as questões - o passivo e o número de sócios - no local próprio (AG). As críticas vêm dentro de um contexto, não surgem por motivos eleitorais. Não entendo que as afirmações sejam desestabilizadoras, pois estamos num processo eleitoral e o escrutínio é este mês.

R - Ficou satisfeito com os esclarecimentos de Cabral Ferreira a propósito do assunto?

GV -
Fiquei satisfeito na parte em que ele garante os ordenados dos jogadores até ao fim da época, porque os atletas merecem. Na parte relativa ao passivo não fiquei esclarecido, porque ele não nega (ndr - valor do passivo é estimado em 15 Milhões de euros). A forma como veio responder às questões parece que já está numa situação de desespero e de quem admite que há problemas.

R - Que balanço faz do mandato de Cabral Ferreira nestes dois anos?

GV -
Foram dois anos perdidos e sem rumo! Não se atingiu os objectivos propostos e perdeu-se cerca de 8 mil sócios. Não foi feito nenhum esforço para recuperar esses sócios.

R - Como interpreta o facto da AG para apresentação das contas se realizar após as eleições?

GV -
Fica mal à direcção não paresentar as contas antes das eleições. Os sócios têm o direito de saber a realidade do Clube. Pensar que é tentar adiar o problema ou escondê-lo para evitar um desaire.

R - Caso seja eleito dia 28, o que se propõe fazer?

GV -
Em primeiro lugar profissionalizar a gestão do Clube e, a par disso, reformulá-lo a nível financeiro, administrativo e comercial. Há muitos anos que existe um desiquilíbrio entre o dinheiro dispendido no futebol (deve ser autónomo) e o dinheiro que é gasto nas modalidades. A nossa ideia é que com essa estrutura profissional, as modalidades funcionem autonomamente. Neste momento gasta-se 1,5 milhões de euros com as modalidades, valores que põem em causa a sobrevivência do Clube. Pretendemos ainda, com a tal estrutura profissional, captar maiores receitas e controlar os custos, o que não existe. O Clube, financeiramente, está completamente desorganizado.

R - Um dos lemas da sua campanha é o projecto de reconversão do parque desportivo associado a um projecto desportivo...

GV -
O projecto mais importante para o Belenenses é esse, pois permite-nos conseguir estabilidade para o futuro. A implementação deste projecto possibilita-nos sobreviver como Clube de topo. Poderemos ter um complexo desportivo rentável e, paralelamente, a melhor formação a nível das modalidades e até do futebol.

R - Se for eleito, Jorge Jesus é o seu treinador?

GV -
Claro que sim. Esperemos que ele fique muitos anos, pois está a fazer um excelente trabalho, ao qual deve ser dada total continuidade. E é uma mais-valia, que tem grande empatia com os associados.

R - E será o presidente da SAD?

GV -
Serei eu, nesse modelo. A SAD terá de ser gerida de uma maneira diferente e profissional, de modo a evitar as oscilações dos últimos anos. Temos de criar um gabinete de prospecção e reformular a formação.

"Um presidente jovem transmite muitas vantagens"

R - O facto de ser um candidato jovem (36 anos) pode ser-lhe prejudicial?

GV - O Belenenses já teve vários presidentes jovens, inclusive mais jovens do que eu. Por exemplo, Artur José Pereira, quando fundou o Clube, tinha 29 anos. Acácio Rosa foi presidente aos 36 anos, Francisco Mega liderou o Clube com 32 anos, tal como José Coelho da Fonseca. Entendo a questão, mas considero que a juventude é uma vantagem, pela força e capacidade de inovar que transmite. Tivemos presidentes jovens, que marcaram profundamente o Clube e foi nessas alturas que nos expandimos.

"Honra e orgulho em ser neto de Gouveia da Veiga"

R -
É neto de um antigo presidente do clube (Gouveia da Veiga). Esse facto pode ajudá-lo, mas também é um "peso"...

GV - É uma honra e um orgulho, naturalmente. Sempre vivi a ouvir falar do Belenenses e a pensar no Clube desde muito cedo. O meu pai também foi presidente da Assembleia Geral. Esse é um motivo de orgulho e espero, naturalmente, honrar esse passado. Tenho a honra de ter tido um familiar próximo como um dos maiores presidentes do Clube. Foi sócio honorário, sócio de mérito e Cruz de Cristo de Ouro. Teve todos os galardões do Clube.

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